Salvar o fogo - Itamar Vieira Junior


 Resumo

No livro Salvar o fogo de Itamar Vieira Junior, ganhador do prêmio Jabuti de 2024, conta-se a história de Luzia e sua família que vivem em uma região do interior dominado pela igreja católica. 

Luzia, uma jovem com uma corcunda nas costas, engravida bem jovem e tem Moises, mas para acabar com as fofocas dos vizinhos, fala que é filho da mãe.

Mas a mãe morre pouco tempo após Moisés nascer. E ela acaba tendo que criar o filho, que não sabia ser ela a mãe, crescendo imaginando ser a irmã . 

Luzia se esconde de todos trabalhando no mosteiro da cidade,  pela vergonha da gravidez jovem e a maldade das pessoas da região que a chamam de bruxa, por causa da corcunda e por ela ter fama de botar fogo nas coisas com o poder da mente. 

Ela trabalha para os monge lavando suas roupas. E com isso facilita para colocar Moisés para estudar no mosteiro. 

Mas os padres do mosteiro e o chefe abusam de Moises e das outras crianças e quando ele vai para contar para a mãe ela não acredita. 

Moisés fica com raiva e vai morar com o irmão na cidade.

Luzia descobre por conta própria das maldades que aconteciam no mosteiro com os outros meninos e usando sua magia de infância bota fogo no mosteiro. 

Seu pai, quando vai  morrer pede para todos os filhos se unirem para sua hora. Isso faz um reencontro de irmãos e um esclarecemos de coisas não faladas no passado e perdão. 

Resenha 

Introdução

O livro trazendo a pobreza do interior, o abuso físico, moral e sexual dos poderosos pelos mais pobres é pano de fundo para essa brilhante história de Itamar Vieira Junior. 

Sua narrativa é diferente. Não vemos a cena acontecer, sentimos ela acontecer, por meio de memórias e sentimentos passados na cabeça de cada protagonista. 

Não costumo gostar disso. Mas Itamar fez isso muito bem feito. 

 

O apego carinhoso entre Luzia e Moisés é muito bonito. É a brutalidade da criação do interior e de antigamente e um carinho excessivo por querer bem. Isso  inspira.

Quando sabemos que Luzia é a verdadeira mãe de Moises e não Alzira, tudo passa a fazer sentido. E é realmente algo surpreendente na história. O autor faz ficar algo visual. Pois vemos primeiro a cena do parto de Moises na lagoa com Alzira e depois vemos a cena novamente imaginado Luzia. 




Quando o pobre do Moisés foi para a escola eu já esperava que algo ruim fosse acontecer. É muito triste como líderes religiosos que ganham a confiança de seus fiéis abusam dessa confiança para fazer tamanha maldade a crianças que acabam ficando desprotegidas pela fé cega dos pais. 

Foi um choque no primeiro momento de Luzia não defender Moisés. Depois entendemos o que é feito. 

Itamar vai e volta nessa linha de tempo de forma tão visual que não vemos interferência ruim na rotina da história. 

Moisés já adulto encarando Dom Tomás e perguntando diretamente para ele sobre o porquê dele fazer essa maldade com ele e com as outras crianças foi algo muito forte. Dom Tomás ainda querendo recompensar tanta maldade com dinheiro foi algo terrível. 




Luzia foi a imagem para mim da mulher forte do campo, da humildade forçada e da opressão diante do destino. 

A resiliência dela para conviver com tanta coisa ruim que acontece na vida dela é algo inspirador. 

Mas será que se ela não lutasse mais como os irmãos não teria um destino diferente? Até quando a resiliência é um ponto positivo? 

As vezes devemos quebrar e não nos dobrarmos.

O mau que é feito a Luzia por meio do falatório do povo é algo que mete medo. Para mim é pior que qualquer mau. Uma fala mau falada pode destruir famílias. E o pior que tem muita gente que faz isso por entretenimento. Diversão. Não sentem a destruição dos outros. 

Luzia sendo atacada ainda criança por ser bruxa é para mim a mais pura realidade. 

A cena que me fez derramar lágrimas foi quando, depois da morte do pai de Luzia, ela e a irmã devem enfrentar os invasores nas terras deles. E plantam mesmo com os homens tirando o broto do outro lado. 

O desespero delas. E depois as duas se cuidando. Uma lavando o cabelo da outra. E rindo. 

Para mim foi algo tão profundo e cheio de significados. 

Representando o amor, o carinho familiar. A segurança de poder rir de momentos desesperadores. 

Esse livro representou tudo isso pra mim. Tudo se resumindo nessa cena. 

 

Itamar usar a real magia de Luzia foi muito legal. Ela realmente botava fogo nas coisas. 

Mas para mim, o poder mais bonito foi o real. Foi a mãe dela pegando uma planta para curar o dente dela. 

O poder real das plantas de curar o que o médico não pode é algo fantástico.


A história de Edith sendo encantada pelo filho do fazendeiro é mais uma vez reafirmando o poderoso usufruindo seu poder e maldade contra o mais pobre. 

Como alguém vê um pedaço de vida e pensa que é só de seu uso? Foi chocante e revoltante.



A história de Alzira e de Mundinho é algo muito triste também. 

Pensamos que Alzira ia ser aquela mulher forte do início da história. Mas logo vemos que a forte era Luzia. Alzira tinha sua fragilidade diante do amor do marido. Ele indo trabalhar na cidade. E ela pensando que ele estava com a amante. Realmente eu acreditei em Mundinho. 

E a falta de proteção que Alzira tem pelos filhos é algo triste. Mas como comparar, com a nossa situação com a dela, com inumeros filhos e uma situação social bem diferente da gente. 

Mas Luzia pensou mais. Queria que Moisés tivesse uma vida diferente. Estudasse e não se importou dele ir para a cidade para crescer na vida.

Conclusão 

O livro que trás tanta temáticas brailencias, que nos faz pensar e meditar na situação que se não nossas, que foram dos nossos pais e avós. E que nos trás tudo em uma linguagem tando diferente do comum mas sem deixar o roteiro na mão. 

Itamar soube trazer o melhor dos dois mundos da literatura, do cultural ao popular. Sem deixar de nos encantar. 

Nota: 4,7 ⭐ 


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