Pequenas Realidades - Tabitha King


 Título: Pequenas Realidades 

Título original: Small World (Mundo pequeno)

Autora - Tabitha King 

367 páginas 

Publicado nos EUA em 13 de julho de 1981  pela editora Macmillan Publishing Company.

No Brasil foi publicado inicialmente com o nome Miniaturas do Terror em 1985 pela editora Francisco Alves pelo tradutor Reinaldo Guarany.

Em 2019, a editora Darkside relançou com o novo título pela tradução de Regiane Winarski. 

O gênero do livro é Terror Psicologico e Ficção científica. 

Resumo

Dolly Hardesty é uma viúva rica e solitária, filha de um ex-presidente, que perdeu o filho e tem como única família os netos pequenos, Zack e Laurie. Eles são criados pela nora, Lucy, que está tentando reconstruir sua vida ao lado de Nick Wilker.

Dolly ainda mantém vínculo com a nora por conta do hobby em comum: a construção e o colecionismo de miniaturas. Lucy é especialista em construir essas peças, e juntas trabalham na criação de uma réplica da Casa Branca.

Nick, gerente de um museu, deseja expor o trabalho das duas. É assim que ele conhece Lucy e se apaixona por ela, apesar do constrangimento de já ter tido um envolvimento no passado com Dolly. Seu pai, inclusive, foi o autor de um famoso retrato de Dolly quando criança.

Dolly é possessiva, excêntrica e manipuladora de forma passivo-agressiva, o que dificulta sua relação com Lucy, apesar da colaboração nos projetos.

A situação muda quando Dolly conhece Roger Tinker, um cientista excêntrico, ex-funcionário do governo, que fora demitido após trabalhar em um projeto secreto: um encolhedor de objetos.

Roger passa a usar o aparelho para encolher pequenos itens para a coleção de Dolly. Mas ela sempre quer mais. Ao seduzir Roger e torná-lo seu amante, o convence a roubar objetos valiosos — como o carrossel do Central Park — para adicionar à sua coleção.

A insegurança afetiva de Roger o leva a cometer um ato ainda mais perturbador: ele encolhe Leyna Shaw, uma repórter por quem tem uma obsessão antiga, ao vê-la correndo próximo ao hotel onde ele e Dolly estavam hospedados. Leyna seria, enfim, a “moradora” ideal para a casa de bonecas que Dolly tanto desejava.

Ao perceber sua nova condição, Leyna enlouquece e acaba cometendo suicídio, o que acelera ainda mais o declínio mental de Dolly. Ela cruza todos os limites ao ir até a ilha onde Lucy e os netos estão visitando o pai excêntrico de Nick — e encolhe os próprios netos para transformá-los nos novos moradores da casa de bonecas.

Com a ajuda de Roger, Nick e o pai de Nick, Lucy consegue resgatar os filhos.

Dolly, em um confronto com Lucy, cai da janela e morre. Roger também acaba encolhido em meio ao caos.

Lucy decide se encolher para cuidar dos filhos, e Roger trabalha em um equipamento para reverter o processo. No fim, Nick, provando seu amor, também se encolhe para viver ao lado da nova família.


Resenha 

O que me chamou atenção para ler Pequenas Realidades foi o fato de a autora ser esposa do meu escritor favorito: Stephen King.

Demorei muito para colocar esse livro à frente de outros na minha lista, com receio de que a escrita de Tabitha fosse muito diferente da de Stephen.

Mas, após ouvir algumas resenhas, percebi que o roteiro poderia me agradar.

Ainda assim, nada me preparou para este livro.

A história, com um roteiro deslumbrante, cheia de camadas, sentimentalismo, emoção e verdadeiro terror, supera muitos livros que li do próprio King.

Claro, a temática é considerada um clichê: o ser humano encolhido é uma metáfora rica para explorar inseguranças emocionais, traumas e a sensação de impotência diante de um mundo opressor.

A narrativa lida com medos e inseguranças. Sentimo-nos pequenos e desprotegidos em um mundo tão grande e assustador.

O trecho que mostra Leyna vivendo em uma casa de bonecas, sendo "protegida" por gigantes, é uma metáfora impactante. Representa nossa relação com a ideia de Deus: enxergamos o universo como limitado, com fronteiras seguras que nos fazem crer que estamos no caminho certo.

Mas e se esse “Deus” fosse apenas uma figura excêntrica e desequilibrada, que quer controlar criaturinhas menores do que ele? Essa é uma das metáforas mais assustadoras do livro.

Outra camada poderosa é a obsessão de Dolly por controle — que se materializa ao dominar seres menores. Primeiro nas casas de bonecas, depois com um ser humano miniaturizado... e por fim, com seus próprios netos.

Quem nunca desejou manter os filhos sempre por perto, protegê-los de tudo? Mas e se isso significasse impedi-los de viver?

Essa reflexão foi particularmente angustiante para mim. Tenho filhos da idade dos de Lucy, e me vi no lugar dela. O desespero dela foi o meu. E como pai, eu também me encolheria sem pensar duas vezes para protegê-los. Não seria isso outra metáfora brilhante do livro?

A personagem de Dolly é um espetáculo à parte. Uma avó com desejos sexuais, com poder para ter tudo que quer, perturbadora em sua passividade. Sua manipulação é sutil, serpenteante, como uma cobra que sufoca sem que a vítima perceba.

A imaginei como Whoopi Goldberg, o que trouxe uma nuance cômica e assustadora ao mesmo tempo.

O final é claustrofóbico, perturbador e comovente.

Stephen King já era incrível. Ver uma versão desse universo com um olhar feminino tornou tudo ainda mais intenso. Tabitha trouxe um sentimentalismo profundo que só poderia surgir da sensibilidade de uma mulher.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐



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