Titulo: A baleia
Titulo original: The Whale
Roteiro: Samuel D. Hunter
Direção: Darren Aronofsky
Lançado nos EUA em 9 de dezembro de 2022. Demorando dois anos para ver o filme.
O que me chamou atenção para assistir ao filme foram os protagonistas de grande renome.
Ter ganhado o Oscar não é algo que, por si só, me atrai, mas eu sabia que haveria cenas fortes que provavelmente me fariam chorar.
Ainda mais por se tratar de temas com os quais me identifico — embora, graças a Deus, não chegando ao nível de Charlie. O filme mostra que esse é um risco ao qual todos estamos sujeitos.
Em uma das minhas últimas resenhas literárias, sobre o conto Instantâneo, de Joe Hill, comentei o tema da obesidade, abordando o preconceito contra pessoas gordas e o direito de cada um de aceitar o próprio corpo.
Neste caso, a abordagem é diferente: o filme trata de um problema grave de saúde, a obesidade grau 3, um estado psicológico que exige intervenção rígida, já que a pessoa praticamente desistiu de viver.
No filme, é compreensível que Charlie tenha chegado a essa desistência, e isso é muito triste.
As cenas de Brendan Fraser são espetaculares.
Ver um ator que foi tão bonito durante a juventude chegar àquela aparência é chocante e comovente. E o mais doloroso é perceber que isso não foi fruto de desleixo ou falta de incentivo das pessoas ao redor, mas de uma depressão devastadora.
A realidade excessiva do filme — com cenas como a masturbação de Charlie e os vômitos explícitos — foi, para mim, desnecessária. Entendo que os produtores queriam transmitir verossimilhança, mas acredito que havia outras formas de alcançar esse impacto sem causar desconforto visual tão grande.
Ainda assim, a atuação de Brendan e sua entrega nos momentos mais intensos trouxeram a humanidade que o filme precisava.
O paralelo entre o filme e Moby Dick nos leva além da comparação óbvia.
Moby Dick representa o problema de Ahab, e quando ele finalmente o enfrenta, sua vida perde o sentido. Ahab transforma a baleia em um monstro quase mítico, e no fim, é sua obsessão — e não a baleia — que destrói a tripulação.
No filme, Charlie também tem seu “monstro”, mas ele não é a obesidade, e sim sua depressão. É ela que o consome. A “baleia” representa sua consciência pesada por ter abandonado Ellie e o desejo de que ela seja uma boa pessoa. Ele tenta provar, até o último instante, que ela é inteligente e não má, manipulando todos ao redor para fazer o que ele acredita ser o melhor para ela. Mas será que é?
O final, com Ellie lendo sua redação na porta enquanto Charlie se levanta do sofá para ir até ela, para mim é uma cena quase espiritual, como se fosse a visão de Charlie ao morrer. O fato de vermos Ellie saindo pela porta reforça a ideia de que ela pode não ter mudado de fato, sendo apenas a idealização do pai que a mostra “boa”.
Chorei muito na cena em que Charlie finalmente aceita quem é e aparece na câmera para os alunos.
Durante o período em que engordei, passando de 75 para 96 kg, por conta do uso de corticoides para tratar o reumatismo que tenho desde os 15 anos, foi essencial para minha autoestima publicar fotos no Instagram e aqui no blog. Isso me ajudou a me ver de outra forma, mesmo ouvindo comentários de pessoas dizendo que eu estava “muito gordo”.
De fato, eu me sentia muito mal ao ouvir essas críticas. Ao ver Charlie no filme, vi um reflexo distorcido de mim mesmo — e isso me emocionou profundamente, pois percebi que não era tão grave quanto imaginava.
Meu peso ideal é realmente menor. Tenho que perder 12 kg, mas, como já verifiquei, ainda estou na faixa de sobrepeso, não de obesidade.
É terrível como as pessoas podem nos fazer sentir diminuídos apenas com palavras, mesmo quando têm boas intenções.
As cenas dramáticas e pesadas, dignas de Oscar, são o que mais nos prendem ao filme. A realidade excessiva pode chocar, mas o filme é indispensável para nos fazer refletir sobre saúde — especialmente a mental. É uma obra que nos faz encarar nossas dores e buscar reconciliação antes que seja tarde
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