Título: Não pisque
Título original: Never Flinch (Nunca vacile/recue)
Série: Holly Gibney / Bill Hodges
Autor: Stephen King
Paginas 544
Editora:Suma
País: EUA
Genero: Policial Investigativo
Resumo
Holly, Kate, Corrie
Holly Gibney, investigadora particular, é contratada, para ser guarda costas de uma palestrante feminista que defende o direito da mulher de poder abortar ou não.
Isso desperta a raiva de radicalistas religiosos, que começam a ter reacões violentas em suas apresentações.
Inclusive da igreja de Chris Stewart.
Chris tem problemas mentais após a morte da sua irmã gêmea quando criança. E assume a personalidade dela para confortar o luto de sua mãe.
Só que seu pai, aconselhado por um líder religioso que não acreditava na medicina, não trata seu filho. E a mãe dele o apoia, por aceitar o conforto do filho, se vestindo e assumindo a personalidade de Chrissy, para suprir sua necessidade de ter mais uma vez a sua garotinha que morreu.
Quando cresce Andy Followers, o líder religioso usa a locura de Chris/Crissy para fazer os ataques a Kathy.
Trig e o julgamento de Allan Duffrey
Allan Duffrey trabalhava em uma empresa e recebeu uma promoção que seu colega, Cary Tolliver, achou injusta. Para se vingar, Cary coloca pornografia infantil escondido nos pertences de Allan e o denuncia a polícia.
No julgamento, Trig, um dos jurados consegue convencer a todos que Allan era culpado baseado nas provas que o promotor gerou para facilitar a condenação do acusado.
Na cadeia Allan é morto por ser considerado pedófilo.
Anos após, Cary, nos últimos momentos de vida, após um tratamento de câncer que não deu certo escreve para o promotor assumindo que armou contra o ex-colega de trabalho.
Agora Trig, com consciência pesada, decide se tornar um assassino em série, matando vários pessoas inocentes aleatórias, que representariam os jurados do julgamento de Allan.
Desfecho final
A cidade de Holly abriga agora dois psicopatas: Trig e Chris, que preparam seus ataques para o mesmo evento — um jogo beneficente entre policiais e bombeiros.
O jogo, que deveria ser simbólico, ganha contornos de rivalidade e distrai a policial Issy Jayne, comprometendo suas investigações sobre os dois criminosos.
Mesmo atuando como segurança de Kathy, Holly começa a investigar ambos os casos.
Ela descobre que "Chrissy", a autora dos verdadeiros ataques a Kathy, é na verdade Chris.
Descobre também que Trig é Don Gibson, organizador do show beneficente de Sista Bessie — cantora famosíssima que abrirá o evento.
Barbara Robinson, amiga de Holly, se envolve com a produção do show após Sista Bessie se encantar por suas poesias.
No dia do evento, Trig sequestra Barbara, Corrie e Kate, e as prende no estádio para matá-las durante o jogo. Ele planeja um "espetáculo final", transmitido como se fosse sua própria obra.
O local do cativeiro também é onde Chris se esconde, preparando seu ataque mortal a Kathy.
Holly vai atrás de suas clientes sequestradas.
Trig mata Chris ao vê-lo tentando "tomar para si" os créditos pelos crimes contra Kathy e Corrie.
Enquanto aguarda o início do jogo para concluir seu "gran finale", Trig tem um surto e visualiza o pai morto. Em transe, regrede mentalmente à infância, revivendo os abusos paternos.
Isso dá a Holly a chance de agir — com a ajuda de Jerome (irmão de Barbara), ela o confronta e o mata, salvando suas amigas.
Resenha
O que me atraiu em Não Pisque foi o fato de ser escrito pelo meu autor favorito, Stephen King, e por fazer parte da série da investigadora Holly Gibney — continuação direta da trilogia Bill Hodges.
Tenho gostado muito de livros investigativos ultimamente, e mesmo com o estilo diferente de King — que revela os algozes logo no início — a emoção da leitura está em ver como eles se esquivam das investigações.
Neste volume, vemos uma Holly mais madura, com a vida estruturada e maior controle emocional. Ela enfrenta seu passado, inclusive o domínio possessivo da mãe, e assume uma nova função como segurança particular, vencendo até seu transtorno obsessivo por rotina.
E então entra o tema polêmico: Kate McKay e o direito ao aborto.
Direito ao aborto
Kate defende, em suas palestras, que a mulher tem o direito de decidir se quer ou não interromper uma gravidez.
É um tema difícil. Eu mesmo já mudei de opinião várias vezes.
Stephen King trabalha esse tema com nuances. Em uma das palestras, Kate pergunta:
"Quantos homens já fizeram aborto?" — uma provocação sobre até que ponto os homens devem opinar.
Será que vemos a mulher como apenas uma incubadora? Ou será que, por sermos parte da criação da vida, também deveríamos ter voz?
No meu caso, tive recentemente a perda de um filho que ainda era apenas uma ideia. Mas ele existia.
Era biológico? Psicológico? Espiritual? Pouco importa. Eu o amava.
Então, para mim, o aborto é sim o fim de uma vida.
Mas… julgar uma mulher que aborta?
Depois de assistir a cenas fortes sobre o tema em Grey’s Anatomy, minha visão se expandiu. Há mulheres que fazem aborto por trauma, por questões de saúde. Mas há também as que o fazem por não querer "trabalho".
E embora eu respeite o direito de escolha, dói ver a maternidade sendo descartada como se não fosse importante.
A verdade é que precisamos ponderar: proibir o aborto em todos os casos prejudica mulheres em situações graves. Mas romantizar o aborto também pode ser perigoso.
Feminismo extremista
King também expõe, com sutileza, contradições em certos discursos feministas.
Ele toca, por exemplo, na questão do assédio. Hoje, mesmo elogios simples podem ser vistos como ofensivos — enquanto os homens continuam sendo hipersexualizados pela mídia.
Há um radicalismo crescendo. Um 8 ou 80 que desumaniza os dois lados.
Essa polarização, segundo King, é o que permite que líderes extremistas ganhem força — inclusive políticos e religiosos.
Religião extremista
Chris é o retrato da influência negativa de certas lideranças religiosas. Ele é manipulado desde a infância, distorcendo sua dor e transtorno em fanatismo.
Mas, fora da ficção, isso também existe. Líderes religiosos estimulam o ódio contra quem pensa diferente, afastam familiares, julgam com base em interpretações erradas da Bíblia.
E o mais assustador: acham que estão fazendo o bem.

O abalo piscologico dos pais na vida dos filhos.
Como tema base desse livro, temos dois psicopatas. E os dois foram construidos em uma estrutura familiar cupando seus pais.
Chris teve sua motivação de vida desenhada pelos pais. Primeiro se transformando na irmã gêmea para agradar a mãe. E a disfunção religiosa para agradar o pai. Se transformando em um radicalista religioso travesti.
E Try, motivado a exceder as expectativas do pai, se satisfazendo matando pessoas.
Será que dá para colocar a culpa só nos pais? Será que King não quis ser Froid um pouquinho?
Acho complicado colocar a culpa tanto assim nos pais se tantos outros meios influênciam. Meio em que vivem, biologia, e até traumas em outras areas ou faltas de traumas.
Nós, como pais, já colocamos uma carga tão pesada em cima de nossos ombros. Pelo menos eu. As vezes é cansativo se sentir culpado de que pessoas no futuro nossos filhos serão. E vem uma história dessas, com dois psicopatas, motivacionais pela paternidade, para nos colocar mais peso. Será?
Roteiro
A história nos agarra pela vontade de saber o desfecho final. Sabemos os planos dos dois psicopatas. Desconfiei desde o principio que teria um embate entre eles. E desconfiei também que a forma de fazer a frágil e docil Holly, e seus amigos e parceiros escapar seria jogar um psicopata contra o outro.
O medo que King nos passsa nesse livro é isso. É a insegurança de dois vilões terriveis. Como vence-los?
Joga-los um contra o outro.
E ter aquela ancia de saber como seria esse embate, como um se jogaria contra o outro.
No final foi um pouco fácil demais para Try. Achei que Chris deveria se mostrar mais imbativel. Apesar dele sempre demonstrar ser mais perigoso, controlado e inteligente.
A dificuldade que eu queria que ele tivesse, teve mais pra frente, na luta final contra os protagonistas.
Foi emocionante a batalha final. A forma que Jerome apareceu e ajudou Holly, seus sapatos derretendo para salvar as garotas do incêndio foi espetacular. Kathy diria: "Novamente um principe encantado aparecendo para salvar as donselas em perigo?". Será que King não fez esse final de Jerome de proposito?
Conclusão
Não Pisque é um livro que:
Aborda temas difíceis como feminismo, aborto e religião extremista;
Trabalha traumas familiares com profundidade;
Tem um formato investigativo único, com foco no algoz;
Entrega emoção, crítica social e uma heroína cada vez mais forte.
Stephen King nos faz pensar. E é por isso que sigo sendo seu fã.
NOTA: 4,5
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